sexta-feira, 23 de abril de 2010

No ares ou no chão...

Um cara recebeu um convite profissional importante para sua área de atuação e com isso terá que deixar o Brasil por três anos,sem muita chance de retornar durante esse período.A dúvida sobre a aceitação o atormenta há dias e a decisão terá que ser tomada amanhã, no máximo,ou ele perderá a oportunidade.
Tudo isso é expresso num e-mail,um tanto tenso,em que pede ajuda,ao mesmo tempo em que informa o que deixará por aqui:a atual namorada,que diz amar muito e os dois filhos pequenos de um casamento anterior,além de toda a família,pais, irmãos etc.Está pressionado de todos os lados,já que a tal namorada,dez anos mais nova,não aceita e a ex-mulher reclama de sua presença junto aos dois garotos,numa idade em que precisam muito do pai.
Dizer que a decisão é dele não ajuda em nada e nem foi para isso que me escreveu.Puxo uma frase da poeta Cecília Meirelles quando diz “Quem sobe nos ares não fica no chão.Quem fica no chão não sobe nos ares.É uma pena que não se possa estar ao mesmo tempo em dois lugares”.
Não se colocando o chão como o concreto chato do cotidiano,nem como a prosaica realidade e nem considerando os ares,o sonho,a expressão do nosso desejo ou o prazer da aventura,mas apenas o duelo permanente entre a segurança possível e limitada embora querida e agradável como zona de conforto e a ousadia que assusta,mas oferece as chances que nos faltam ou a possibilidade da concretização de um sonho que poderá trazer novas cores ao marrom do dia-a-dia.
Escolher é sempre difícil,ainda que a direção única pra se viver a aventura existencial sem desperdiçar energias ou deixar-se conduzir. Ou escolhemos ou somos escolhidos pela dominação,pela inércia, pela mesmice e, por tabela,pela vitimidade. E na escolha, com certeza, algo sempre fica por ser vivido;aliás, a opção não feita é sempre uma incógnita em nossa vida. Eis porque não se pode falar em escolha certa, mas apenas em escolha, já que não se sabe como teria sido o outro lado, aquele não trilhado,ainda que tenha dado certo.
Ou ele sobe nos ares ou fica no chão.Não se pode ter tudo,mesmo se lamentando por não se poder usufruir dos dois lugares e tanto olhar do alto quanto apreciar a vista de baixo.Algo sempre há de ficar pelo caminho,quem sabe até como proposta de um futuro ou para acréscimo de avaliação?
Parece-me que chega a nossa hora de subir e arriscar,principalmente,quando já se conhece a terra e dela se aproveitou o que oferecia em sua fertilidade.A escolha do cara não é fácil,como não são as escolhas fortes que todos nós temos que fazer na vida.No crucial de que somos os protagonistas do nosso destino e não meros espectadores das circunstâncias comuns.
Até porque quando optamos por subir tememos não mais descer no lugar de antes.E, geralmente,não descemos mesmo.

(Li no jornal dia desses. A crônica é de Luiz Alca de Sant'Anna)

2 comentários:

  1. "E na escolha, com certeza, algo sempre fica por ser vivido;aliás, a opção não feita é sempre uma incógnita em nossa vida. Eis porque não se pode falar em escolha certa, mas apenas em escolha, já que não se sabe como teria sido o outro lado, aquele não trilhado,ainda que tenha dado certo. "

    Isso faz todo o sentido do mundo! As escolhas que optamos por não tomar sempre serão incognitas, deixando a dúvida do "e se". isso me faz surtar as vezes, mas, acho que, se não dizer que fizemos a escolha certa, podemos, ao menos, dizer que fizemos uma boa escolha.

    beijo cabrita!

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