terça-feira, 29 de junho de 2010

Dá pra tirar a máscara?

Sob a máscara tudo se oculta – o bem e o mal. Tanto usam máscara o Zorro e o Batman como os ladrões e os terroristas. Nós também usamos máscaras, sem elas seria impossível sobreviver. Sorrimos quando nos dão uma bofetada, choramos para obter o que pretendemos, falamos mais alto do que os outros para atemorizar, mostramos as nossas garras para paralisar quem nos ameaça, nos fingimos de manso quando tantas vezes somos brutos, engolimos sapo para segurar a nossa barra e ou a dos outros, utilizamos photoshop, manipulamos nossa imagem… O que mais? Mas não seria possível andarmos nus na rua. Sem máscara, não conseguiríamos segurar as lágrimas nem o riso, seríamos incontinentes emocionais, o que nos deixaria à mercê da predação social. A máscara é uma arma que pode ser usada para defesa ou ataque. A vida em sociedade exige máscaras. Mas, se nos descuidamos, de repente pode cair, caindo acaba revelando o que em nós não passa de fragilidade, pânico, impotência e pretensão. Dá pra tirar a sua máscara? Você conseguiria sobreviver sem ela?

Memórias

Nietzsche dizia que a memória tinha vantagens e desvantagens na vida. É certo que quem quiser viver bem, quem almejar de algum modo ser feliz, deverá provar o equilíbrio entre lembrar e esquecer. Mas o que devemos esquecer e o que devemos lembrar? Na busca de um meio-termo, mais vantajoso será guardar o que nos traz bons afetos e descartar o que nos traz maus sentimentos. Motivos para a infelicidade não faltam a quem quiser olhar para a história humana. Mas enquanto a memória histórica nos faz bem, pois nos mostra o que se passou para chegarmos até aqui, a memória pessoal faz o mesmo, mas ela só tem sentido se conectada à memória coletiva. Para poder buscar a alegria de viver é preciso olhar para a frente e reinventar a vida a cada dia. É essa invenção do presente que nos dará, no futuro, um passado do qual tenhamos prazer em lembrar… Por isso, contar histórias, fazer arte, ou seja, deixar-se levar pelas musas, continua sendo a melhor saída. A vida criativa é a única que evita o mau esquecimento e, por outro lado, a má lembrança que é o ressentimento. (Márcia Tiburi)

O dia em que Gottfried Benn pegou onda – de Alberto Pucheu

É preciso aprender a ficar submerso

por algum tempo. É preciso aprender.

Há dias de sol por cima da prancha,

há outros, em que tudo é caixote, vaca,

caldo. É preciso aprender a ficar submerso

por algum tempo, é preciso aprender

a persistir, a não desistir, é preciso,

é preciso aprender a ficar submerso,

é preciso aprender a ficar lá embaixo,

no círculo sem luz, no furacão de água

que o arremessa ainda mais para baixo,

onde estão os desafiadores dos limites

humanos. É preciso aprender a ficar submerso

por algum tempo, a persistir, a não desistir,

a não achar que o pulmão vai estourar,

a não achar que o estômago vai estourar,

que as veias salgadas como charque

vão estourar, que um coral vai estourar

os miolos – os seus miolos –, que você

nunca mais verá o sol por cima da água.

É preciso aprender a ficar submerso, a não

falar, a não gritar, a não querer gritar

quando a areia cuspir navalhas em seu rosto,

quando a rocha soltar britadeiras

em sua cabeça, quando seu corpo

se retorcer feito meia em máquina de lavar,

é preciso ser duro, é preciso aguentar,

é preciso persistir, é preciso não desistir.

É preciso aprender a ficar submerso

por algum tempo, é preciso aprender

a aguentar, é preciso aguentar

esperar, é preciso aguentar esperar

até se esquecer do tempo, até se esquecer

do que se espera, até se esquecer da espera,

é preciso aguentar ficar submerso

até se esquecer de que está aguentando,

é preciso aguentar ficar submerso

até que o vulcão de água, voluntarioso,

arremesse você de volta para fora dele.

sábado, 26 de junho de 2010

Gosto e não gosto.

“Gosta de chocolate?”
“Gosto e não gosto.Sabe?”
“Não. Explica.”
“Gosto por adorar o sabor, a sensação gostosa que me dá na hora que como e não gosto pela sensação que me dá após comer:alergia,peso na consciência e até mesmo na balança.Dessa forma gosto e não gosto.”

Assim é com você. Gosto de quando me faz rir por motivos idiotas, quando me faz ver que a resolução de algo é simples e não tão complexa como imagino,do seu beijo...em contrapartida não gosto de querer o mesmo beijo e não poder ter,não gosto de perceber que na maioria das vezes você tem razão,de me sentir insegura e, acima de tudo não gosto dessa coisa de “me sentir mais feliz ao lado de alguém”,sabe? Pode parecer idiotice, e talvez seja já que isso é algo que todas as pessoas buscam mas não gosto dessa relação de dependência do outro. Essa coisa de “você me faz feliz” . Não acredito nisso. Ninguém faz ninguém feliz e a vida não são apenas momentos de felicidade. Se a pessoa baseia a felicidade dela em cima de alguém essa pessoa será triste no momento em que por algo do destino ficar sozinha. A solidão é necessária.Alguns podem achar amedrontador ou vergonhoso mas não, é à partir dela que definimos nossa individualidade e que através dessa mesma individualidade,desse “se conhecer” é que percebemos que nós mesmos temos as respostas que necessitamos. Necessitamos saber,nos conhecer e não ouvir do outro. À partir do momento que a pessoa se conhece e para de depender do outro creio que ela consegue manter um relacionamento,porque deixa de existir a relação de dependência,sabe? Ela pára de ver as respostas da sua vida no outro e, sim nela mesma. Ou seja, ninguém faz ninguém feliz as pessoas apenas completam a felicidade das outras. Clichê,né?Mas verdade,ao menos pra mim...

Puro medo!Medo dessa perda de individualidade, de querer me tornar um quando na verdade tenho noção(e gosto do fato) de que somos dois. Medo! Maldito ou bendito medo...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Contra nós mesmos...

Ontem se falou aqui em perdoar,esse comportamento tão importante e lindo dentro de um relacionamento. E tão complexo,como se mostrou. Pela manhã,uma amiga ligou dizendo-se tocada com o texto e afirmando que tem dificuldade na medida da tirania com ela mesma,além da extrema exigência com a retidão nas atitudes.
Fiz-lhe ver o quanto é importante perdoarmos a nós mesmos da mesma forma que o fazemos com outros,sanada a mágoa,o que muitos se esquecem,carregando culpas pela vida afora e levando pedras no bolso que tanto dificultam o caminhar e exaurem,como afirma o escritor John Shapiro.
Não se concedem a absolvição,presas ás circunstâncias por conta de seus erros que geraram maus resultados e conseqüências desastrosas em cadeia que lhes acabaram caindo sobre a cabeça atrasando a vida.
Só que cultivar essas culpas não ajuda em nada,ao contrário, estimula o ressentimento, a baixa auto-estima,a amargura, como vejo em tantas pessoas que poderiam viver mais leves e lutar pelo que realmente importa:ser feliz.
Ouvi uma vez de um antropólogo brilhante que o homem é o único animal que paga muitas vezes por um mesmo erro e passei a questionar o quanto isso é verdadeiro.E muito injusto.Depois de pagar por um erro cometido e arrepender-se de ter cometido,chega! Vamos partir para outra.E, por favor, não admitir que fiquem nos acusando de novo ou fomentando as tais culpas.
Freud fala muito em translaboração,propondo que o pré-consciente que aprisionou a pessoa no passado seja revisto com coragem e honestidade para que haja a chance de eliminar os fantasmas que voltam,recapitular as lembranças no valor de hoje e rever os conceitos do passado em nova elaboração.
Perdoar a si mesmo é muito importante.Guardar para uso próprio,no momento necessário, essa importante prerrogativa, que não só se mostra que não se trata de esquecer,mas de desconsiderar a importância do auto-prejuízo que, graças a Deus,não é mais resistência à evolução.
E que conhecendo o perdão e o perdoar,também utilizá-lo para nós, naqueles momentos tão sérios e marcantes em que percebemos que não aproveitamos a vida como deveríamos e nem desenvolvemos os talentos na medida da dádiva.
Seguir o nosso caminho com luz é sábio,na certeza de que a vida é sempre maior que a mágoa e muito mais iluminada do que a sombra do rancor ou do tormento que impomos a nós mesmos.
Não lute contra você, digo o mesmo a essa minha amiga e a todos que vivem se martirizando pelo que já passou.

(Li no jornal dia desses. A crônica é de Luiz Alca de Sant'Anna)